Por que não podemos coçar os olhos e o que isso tem a ver com o ceratocone ?

Sempre que alguém nos diz “não coce os olhos”, a primeira coisa que nos vem à cabeça é que aquela pessoa está exagerando. Ou, logo nos lembramos dos “mitos” e achamos isso besteira.  

Mas, não é. Você pode achar que se trata de hábito inofensivo e bem comum. No entanto, ele pode trazer vários problemas para a nossa saúde ocular. 

Entenda melhor porque não podemos coçar os olhos, o que causa o ceratocone e, especialmente, a relação entre os dois, além dos tratamentos disponíveis.  

Afinal, por que não podemos coçar os olhos? 

Primeiro vamos entender um pouco dos nossos olhos. Os tecidos que formam esse órgão, responsável por um dos mais preciosos sentidos: a visão, são organizados em camadas. São cinco camadas na córnea, parte mais anterior (superficial).  

O movimento de coçar os olhos pode, simplificadamente falando, desorganizar essas camadas. E, quando isso acontece, o resultado é uma chance maior de desenvolver problemas visuais sérios. 

Ou seja, além das infecções virais e bacterianas, incluindo o coronavírus, os riscos de coçar os olhos são ainda maiores.  Esse ato, por vezes automático, causa danos à córnea e ao globo ocular, provocando doenças que, em casos mais graves (e não tratados adequadamente) podem resultar na perda irreversível da visão.

E é aí que entra o ceratocone, que é o nosso tema. 

Antes de falarmos sobre o que causa o ceratocone, vamos explicar o que é 

O ceratocone é a distrofia mais comum da córnea, que é a parte mais interna do olho. Ele afeta uma em cada duas mil pessoas, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. A doença costuma surgir entre os 13 a 18 anos e tende a se estabilizar aos 35.

Ela provoca o que chamamos de  ectasia, que é quando nossa córnea passa a ter um formato irregular – no caso de cone – e fica mais fina. 

Bem, não se conhece ao certo o que  causa o ceratocone, mas estudos demonstram que é uma doença hereditária. Além disso, pacientes alérgicos estão mais predispostos a desenvolvê-la, possivelmente devido ao hábito de coçar os olhos. Isso porque o trauma mecânico ajuda na progressão, pois gradativamente fragiliza e rompe as fibras que mantêm a córnea estável.⠀

Quais os sinais e sintomas do ceratocone

Os sintomas são muito parecidos com outros problemas de visão, mas para quem tem ceratocone, os problemas evoluem rapidamente. Mas,vamos citar alguns deles:

  •  Visão embaçada ou distorcida (para longe e/ou perto)
  •  Coceira nos olhos
  •  Muita sensibilidade à luz/claridade
  •  Visão dupla
  •  Ver círculos (halos) ao redor das fontes de luz
  •  Dores de cabeça

Como é feito o diagnóstico do ceratocone? 

Para que o diagnóstico da doença seja realizado, o oftalmologista irá avaliar o seu histórico médico e familiar, e realizar alguns exames oculares para avaliar o estado do seu olho e da sua córnea.

Entre os exames mais comuns estão:

  • Ceratometria (que serve para medir a curvatura da córnea)
  • Paquimetria corneana (que mede a espessura da córnea na área central)
  • Tomografia de córnea (Pentacam)
  • Topografia da córnea (ceratoscopia corneana)

Agora que sabemos o que causa o ceratocone, porque não podemos coçar os olhos é a hora de falar da cura e do tratamento.

O ceratocone não tem cura. Não existe uma maneira comprovada de prevenir a doença. Mas, como dissemos, seu desenvolvimento está associado, na maioria das vezes, ao hábito contínuo de coçar os olhos. 

Nesse sentido, é muito importante evitar ou eliminar os fatores que levam a sentir vontade de coçar os olhos, como evitar alergênicos, como poeira e pólen, ou tratar crises alérgicas decorrentes de tais substâncias.

Com o acompanhamento do oftalmologista, é possível, também, usar colírios específicos para diminuir a coceira, ajudando, assim, a evitar o desenvolvimento do ceratocone.

No entanto, já existem tratamentos, tanto para reabilitar a visão do paciente como  evitar a progressão e ajudar na estabilização da doença.

A partir do diagnóstico e da identificação da fase em que se encontra, é possível analisar e ver qual a melhor opção para cada paciente. 

Para reabilitar, em alguns casos mais leves,  o próprio uso de óculos pode ajudar  a ter qualidade de visão satisfatória. Dependendo do avanço, é preciso lançar mão das lentes de contato, principalmente as rígidas, que  conseguem corrigir melhor a irregularidade causada pelo ceratocone. 

Hoje já existem lentes com desenho específico para quem tem a doença, o que tem aumentado o sucesso da adaptação e melhorado cada vez mais a qualidade de visão. 

O implante de anel na córnea (anel de ferrara), ajuda a diminuir os impactos na visão causados pela doença. Outra alternativa é a cirurgia crosslinking, que consiste na aplicação da luz UltraVioleta associada à instilação de colírio de Riboflavina (Vitamina B). Todos estes procedimentos têm indicações específicas e devem ser indicados ou não pelo seu oftalmologista.

Até a década de 90, o transplante de córnea era a única opção cirúrgica eficaz para reabilitação visual em casos de ceratocone que não tivessem boa visão com óculos e não tolerasse lentes de contato especiais. Este paradigma foi quebrado, com os avanços. 

De qualquer forma, além de ter clara a ideia do porque não podemos coçar os olhos e o que causa o ceratocone, o acompanhamento e os exames de rotinas são as melhores formas de tratar e de prevenir a evolução. Agende seus exames de rotinas. 

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